sexta-feira, 10 de julho de 2009

O MITO

Não gosto nada quando acontece.

Só o acto em si , mostra-se simplesmente sem utilidade nenhuma.

A expectativa de olhar em redor, mirar as possíveis e eventuais velhotas com roupões sarrabecos que possam estar à escuta, à espera de que o momento fatal daquela manhã fresquinha ocorra, mesmo em frente aos seus olhos atentos e vacilantes que procuram informação constante, na ânsia de soltar uma gargalhada mesmo à nossa frente, relatando tudo posteriormente no café do António.

São dias apressados, em contra-relógio.

Não restam minutos para o pentear, e o estrondoso conjunto de vasos capilares vem assim ao natural, a percorrer as ruas livremente, resistindo heroicamente ao gel extra forte que me custou quarto euros no continente.
É evidente que se revelou dinheiro mal gasto. Os anúncios pareciam tão credíveis. Ou se calhar fui eu que vi mal.
Eram seres humanos a fazerem altos passos de breakdance, energéticos e ágeis com cabelos fortemente oleados, que resistiam à pressão de um pino de cabeça, voltando ao seu estado estado sensação imediatamente de seguida.
Após tamanha reflexão, desisti.

Que se lixe a porcaria do cabelo.

Sempre tenho mais tempo para preparar o meu pão de cereais com rúcula e fiambre de peru, actualmente com ascensão no mercado de sandes. Então não é que no início, o pão de cereais era o patinho feio no seio das padarias.
O pão de forma e o pão de centeio ficavam sempre visíveis nos vidraçais, impunes, com a mania da ribalta.
Eram sempre eles que comiam a carne assada boazona lá do sítio.

E o pão de cereais, triste e magoado pelas incertezas da vida, contentava-se com a margarina fora de prazo que ninguém pegava. Até que numa bela tarde de Domingo, com um solinho agradável e uma temperatura relativamente
benzinha, recomendada pelo serviço nacional de saúde, com o carimbo dessa mítica fundação saudável algures perto das núveis, daquelas temperaturas que não chateiam o decorrer normal do dia-a-dia eu descobri-o.
Lá escondido na padaria do bairro, o pão de cereais lacrimejante a mirar-me com olhos de carneiro mal morto.
"heim, isto é que está um solzinho prazenteiro!"

"É verdade Doutor João"- respondeu a D.Helena toda jagunça com a combinação à mostra, a observar-me com aquele olhar como quem diz "Compra lá o que quiseres e vai cagar à mata".
"Uhh, novidades em termos económicos referentes à queda do pão de mistura?"
"Ai menino, não percebo nada do que está prai a dizer, mas não goze aqui com a velha, senão vou ser obrigada a introduzir-lhe um cacete de tamanho considerável pelo ânus acima".
"Pronto, pronto.. desculpe, tudo menos o cacete no rabo que depois a minha mulher pensa que sou um drag queen larilas".

Até aqui, tudo bem.

Repentinamente, aparece o maior gordalhufo do bairro por detrás das cortilhas ao estilo talhante, que separavam a produção de pães da loja propriamente dita.
Toda a gente sabe que o senhor "Hernando-buraconegro" era um vulcão no que toca a gases, provenientes de uma matéria obscura tóxica, superior a qualquer bomba nuclear inventada até aos dias de hoje.

Avistei-o com cautela e como que possuído por um impulso de sobrevivência, pedi os pãezinhos supostamente "Rafeirosos" com pouca saída no estaminé da D.Helena e corri com velocidade até à segurança do meu sofá.

Petrificado com o sucedido, e relembrando memórias regorgitantes que surgiam na minha mente, abri o saco do pão, e dei uma trinca.

E pronto, basicamente foi a partir dessa altura que surgiu a loucura do pão de cereais na minha vida.

Em relação aos outros acontecimentos marcantes que andam prai feitos loucos, falo noutro dia.

Penso que este depoimento chegou por hoje.



@Rita - 11/7/2009

2 comentários:

Joe disse...

Ah. Agora está tudo explicado =D

Gonçalo Rato disse...

Não te esqueças de me dar sempre um bocado do teu pão. ;)