sábado, 25 de abril de 2009

Quem tem medo do escuro ?




Debruçada sobre o seu leito, cobria o rosto com as mãos.
Escorriam-se lágrimas de uma vida feita de nadas, uma alma que estremecia sem propósito aparente.
Movia-se cuidadosa e lentamente, pé ante pé, tentando escapar ao tormento constante que a prendia à obscuridade emitida através de um olhar pálido fixado na imensidão do horizonte.
Não tinha noção do tempo, do que a rodeava, de quem era.
Só sabia que a sua frágil e inocente essência tinha desaparecido.
A alegria que outrora lhe corria nas veias tinha sido bruscamente levada.
As cores vivas que transpareciam na sua doce e luminosa alma tinham sido substituídas por um vazio gélido e cortante que um dia impediria o seu coração de voltar a bater.
Aliviada com tal notícia, foi inundada por um rasgo de esperança que depressa se desvaneceu.
Voltou a ser levada pelo medo e ilusão que nos últimos dias ocupavam o seu pensamento, como um manto negro de agonia e agressividade que se uniam como almas gémeas.
Estranhamente, estes dois sentimentos destrutivos e esquartejantes tinham-se um ao outro.
Encontraram-se no beco da perversidade de um mundo feito de tormentos.
Já para ela, a memória de um sorriso ou de um afecto verdadeiramente sentido estava em vias de ser esquecido.
Envolvida com a sua própria insanidade mental, contemplava-se ensanguentada e débil.
Temia não ter forças para mais um dia, por isso, deixou-se ficar quieta.
Completamente imóvel.
Desistiu de combater o terror desconhecido que a perseguia à uma eternidade.
Enroscou-se em si própria.
Rendeu-se ao destino inevitável,
e...
Após ter percebido que aquele era o seu último suspiro,
Acordou.

Rita 25/5/2009

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